histórias dos projetos

Como o baru ganhou o mundo. E o que o Fundo Ecos tem a ver com isso

Até então desconhecida no mercado, castanha do Cerrado recebeu primeiro apoio para comercialização em edital lançado pelo ISPN em 1995 

Pedro Ponce e o filho Lula, da Cooperativa da Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana (MT), selecionam a castanha do baru para torra e comercialização

No Cerrado, o baruzeiro, uma árvore imponente e de madeira nobre, produz um fruto valioso: o baru. Por muito tempo, esse fruto foi negligenciado, enquanto as árvores eram derrubadas para uso da madeira ou deixadas de lado no pasto. No entanto, uma mudança começou a se desenhar, impulsionada pela sabedoria ancestral e pelo desejo de proteger o bioma. 

Vanderlei Pereira de Castro, psicólogo nascido em Doverlândia (GO), descobriu o poder do baru ao conviver com o povo Xavante. Para eles, o baru não é apenas alimento, mas uma fonte de energia e nutrição durante as caçadas. Essa relação despertou em Vanderlei o desejo de usar o extrativismo para conservar o Cerrado, aproveitando os frutos sem destruir as árvores.

Essa ideia ganhou corpo em 1995, quando o projeto da Agrotec, o Centro de Tecnologia Agroecológica de Pequenos Agricultores, localizado em Diorama (GO), fundado por Vanderlei, foi selecionado no primeiro edital do Programa de Pequenos Projetos, o PPP-ECOS, hoje chamado Fundo Ecos, um fundo independente do ISPN. Naquele ano, o PPP-ECOS tinha financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 

Acompanhe a linha do tempo desta história de experiência ecossocial:

O objetivo de Vanderlei era integrar o uso sustentável do baru com atividades como a criação de animais silvestres e o cultivo de plantas medicinais. Ele acreditava que, se manejado corretamente, o extrativismo poderia ser um caminho para a conservação do bioma e o sustento das comunidades locais.

Vanderlei Pereira de Castro, idealizador da Agrotec e pioneiro na comercialização do baru (Foto: Reprodução/Acervo Agrotec)

A engenheira florestal Terena Castro, do ISPN, explica que o extrativismo do baru respeita  o ciclo das árvores. 

“A extração não compromete a reprodução da espécie, já que os frutos são coletados depois que caem no chão”, diz Terena, ressaltando que o extrativismo depende de um ambiente saudável e equilibrado para prosperar.

Simão de Almeida, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nossa Senhora do Livramento (MT), testemunhou essa mudança de perto. Anos atrás, as pessoas evitavam o baru, conhecido como cumbaru no Mato Grosso, acreditando que o fruto poderia causar feridas. Com o tempo, o conhecimento se expandiu, e hoje o baru é fonte de renda para muitas famílias da região. “O que antes era desprezado, agora sustenta”, comenta Simão.

“As árvores de baruzeiro não estão mais sendo cortadas; novas estão sendo plantadas”, acrescenta o sindicalista. Ele destaca que o baru não interfere nas plantações: “Tudo que se planta embaixo dele vinga.”

Para os moradores de regiões como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, onde o baruzeiro é nativo, a árvore é parte do cotidiano rural. Suas castanhas caem em abundância entre julho e outubro, com uma única árvore podendo produzir cerca de 1.500 frutos por ano, de acordo com dados da Embrapa.

Simão relembra que, no passado, havia um certo desconhecimento sobre o potencial do baru. Entretanto, com o tempo, o fruto se tornou uma fonte valiosa de renda. Miguelina de Oliveira Campos, moradora da comunidade rural São Manoel do Pari e presidente da Associação dos Agricultores e Agricultoras Familiares das Comunidades Aguaçu Monjolo e São Manoel do Pari, concorda: “Era um fruto que perdíamos, apesar de ser saudável.”

Essa mudança de percepção reflete o impacto positivo do fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade, gerando renda e conservando recursos. Um exemplo claro é a Cooperativa Central da Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana, localizada a 105 km de Cuiabá. Beneficiária do Fundo Ecos, em edital do projeto Cerrado Resiliente, com financiamento da União Europeia, a cooperativa organiza uma rede de coletores de baru, com quase 70% de mulheres. 

Mesmo após a safra, as trabalhadoras conseguem renda, pois os frutos bem armazenados podem durar até dois anos.

Pesagem e estocagem de castanha de baru no Armazém do Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec)

A cooperativa, sediada na comunidade Zé Alves, é gerida pela família Ponce, que, em parceria com o sindicato, organiza a cadeia produtiva do baru. Simão atua como articulador do movimento, reforçando a importância de conscientizar as pessoas sobre o valor do baru: “Meu papel é conectar os trabalhadores rurais à colheita do cumbaru [nome no baru no estado do Mato Grosso] e mostrar a importância do fruto e da árvore.”

Assim, o baru se torna um elo entre tradição e sustentabilidade, conectando comunidades à terra e conservando o bioma.

Simão auxilia a Cooperativa Central da Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana na pesagem do baru (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Popularização

Luis Carrazza, secretário-executivo da Central do Cerrado, acredita que o trabalho da Agrotec e de Vanderlei de Castro, com o apoio do Fundo Ecos, foi essencial para popularizar o baru. Solange Castro, colaboradora da Agrotec, lembra do início, quando a ideia era recebida com ceticismo. “As pessoas faziam chacota e diziam ‘lá vem o doido do Vanderlei com suas ideias'”, conta.

Vanderlei tinha uma visão clara: queria que o baru fosse consumido, preservando as árvores em pé. Segundo Solange, seu foco não era o lucro, mas demonstrar a viabilidade do baru como um produto sustentável.

“Tudo que ele fazia, socializava com todos. Vanderlei queria que o baru fosse consumido, e não usado para pasto. Ganhar dinheiro não era a prioridade”, explica Solange.

Solange e Vanderlei, idealizadores da Agrotec (Foto: Acervo Pessoal/Reprodução)

Vanderlei morreu em fevereiro 2008, mas deixou um legado duradouro no uso sustentável dos frutos do Cerrado. A partir do consumo do baru nas aldeias Xavante, a Agrotec passou a produzir pães e barrinhas de cereal, atraindo a atenção de pessoas e organizações. Um obstáculo, no entanto, era o duro endocarpo do fruto, a parte interna, que precisava ser quebrado para liberar a castanha. No final dos anos 1990, a Agrotec desenvolveu uma “guilhotina” simples e eficaz para quebrar os frutos.

Rosana Claudina, presidente do Ceppec, maneja um quebrador de baru (Foto: Reprodução/Acervo Ceppec)
Nilo Manoel da Costa, morador da comunidade São Manoel do Pari, na Baixada Cuiabana (MT) (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Em 1998, a Fundação Pró-Natureza (Funatura) também começou a incentivar e assessorar as comunidades na exploração do potencial do Cerrado com apoio do antigo PPP-ECOS. Selecionada no 3º edital do Fundo, a Funatura apoiou a criação da primeira Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) do Brasil, em Pirenópolis (GO), onde o Santuário Vagafogo da Vida Silvestre combinava conservação com ecoturismo, oferecendo para os visitantes da reserva natural um brunch feito à base de frutos e produtos nativos do Cerrado. Esse atrativo está vivo até hoje.

O modelo de uso sustentável chamou a atenção de outras organizações, e o Fundo Ecos promoveu um intercâmbio entre a Funatura e a Agrotec, que apresentou o baru como um produto promissor. “O Fundo sempre incentivou esses intercâmbios para que os beneficiários pudessem trocar experiências”, lembra Carrazza.

Pirenópolis, rica em baruzeiros, tornou-se pioneira na exploração comercial do baru. Em 2002, a Funatura apresentou um projeto para estruturar o arranjo produtivo do baru nas comunidades rurais de Bom Jesus, Santo Antônio e Caxambu (GO).

O projeto incluía a implementação de uma agroindústria de processamento de baru, beneficiando a Associação de Desenvolvimento Comunitário de Caxambu e o Centro de Estudos e Exploração Sustentável do Cerrado (Cenesc), consolidando a cidade como referência no uso sustentável do fruto em Goiás.

Antes vendido de forma caseira em pequenos pacotes, o baru passou a unir organizações extrativistas em busca de maior escala para a comercialização. Essa união transformou Pirenópolis em um ponto de referência para formação e disseminação de informações sobre o fruto.

Pacote de baru embalado pelo Cenesc, em Pirenópolis (GO), em 2003 (Foto: Acervo pessoal/reprodução)

No início dos anos 2000, houve um aumento significativo nas pesquisas sobre o baru, com uma equipe da Embrapa liderando estudos e publicando materiais técnicos, como o manual Baru (Dipteryx alata Vog.), de Sueli Matiko Sano, Semíramis Pedrosa de Almeida e José Felipe Ribeiro, pela editora Funesp.

Segundo Carrazza, o ISPN desempenhou um papel fundamental nesse processo, conectando comunidades e pesquisadores e sugerindo temas de investigação. “Quem começava a trabalhar com baru geralmente acabava nos visitando o Cenesc e as diversas iniciativas de produção de baru”, recorda.

Em 2010, foi lançado pelo ISPN no âmbito de um convênio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Manual Tecnológico de Aproveitamento Integral do Fruto do Baru, parte da coleção Tecnologias Sustentáveis do Cerrado. Escrito por Luís Carrazza e João Carlos Cruz e Ávila, o manual foi desenvolvido com base em experiências comunitárias de uso sustentável da biodiversidade, trazendo técnicas e experiências de aproveitamento do baru para além da castanha. 

Fortalezas

Em meio ao crescimento do uso e comercialização do baru, o movimento Slow Food reconheceu a castanha, em 2005, como uma “Fortaleza”, parte de um programa criado em 1999 para identificar e proteger alimentos tradicionais ameaçados de extinção.

As Fortalezas Slow Food têm como objetivo apoiar agricultores familiares e produtores artesanais, ajudando-os a superar desafios, ao conectar esses produtores a mercados que valorizam seus produtos. 

O reconhecimento internacional do baru como Fortaleza Slow Food, em 2005, foi fruto da candidatura elaborada pelo Centro de Estudos e Exploração Sustentável do Cerrado (CENESC) com apoio do ISPN. Esse reconhecimento trouxe visibilidade global à castanha e destacou a necessidade urgente de preservar o Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do mundo.

Baru de Pirenópolis (GO) se tornou uma Fortaleza Slow Food em 2005 (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Além de promover o uso culinário do baru, a iniciativa busca incentivar a exploração sustentável dos recursos do Cerrado, ampliando seu mercado e posicionando-o como um produto artesanal de alta qualidade, valorizado tanto no Brasil quanto no exterior.

“A Fortaleza Slow Food do Baru representou um passo decisivo para transformar a castanha em símbolo de conservação e inclusão socioeconômica. Por meio dessa parceria, ampliamos a visibilidade do baru e promovemos o uso sustentável do Cerrado, gerando renda para as comunidades e protegendo um bioma tão ameaçado”, afirma Isabel Figueiredo, coordenadora do programa Cerrado do ISPN.

A inclusão do baru no mapa mundial dos alimentos com impacto socioambiental positivo destaca-o como referência na conservação da biodiversidade.

Quando o baru foi reconhecido como Fortaleza, apenas três outras existiam no Brasil: o Guaraná Sateré Mawé, o Umbu da Coopercuc e a Bergamota Montenegrina. Hoje, o programa Slow Food conta com 591 Fortalezas em todo o mundo, envolvendo mais de 13 mil agricultores e produtores, incluindo exemplos como o Arroz Bario da Malásia, a baunilha Mananara de Madagascar, o café da Guatemala, o umbu do semiárido brasileiro e o Queijo Oscypek da Polônia.

Troca de saberes

A cerca de mil quilômetros da Agrotec e mais de 1.200 quilômetros de Pirenópolis, o baru também é o foco do Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec). Localizado no Assentamento Andalúcia, em Nioaque (MS), o Ceppec foi fundado em 2005 para gerar renda e melhorar a qualidade de vida no campo por meio do extrativismo sustentável.

Rosana Claudina, agricultora familiar e presidente do Ceppec, compartilha como o apoio do PPP-ECOS, hoje Fundo Ecos, e do ISPN, foi crucial para valorizar o uso sustentável do baru. “Eles nos mostraram que o extrativismo sustentável e a permanência no campo eram valorizados”, relembra. Rosana lutou por cinco anos pela terra, passando por 12 ocupações e 11 despejos, até se estabelecer no assentamento Andalúcia, onde o baru se tornou uma importante fonte de renda para a comunidade.

Rosana Claudina, presidente do Ceppec, popularmente conhecida como Preta (Foto: Luana Campos/Acervo ECOA)

Logo no ano de sua fundação, em 2005, o Ceppec foi selecionado em um edital do Fundo Ecos com o projeto Articulando o Desenvolvimento Socioambiental Rural no Estado de Mato Grosso do Sul. Esse projeto nasceu de uma longa reflexão sobre como viver da terra sem seguir o modelo de agricultura mecanizada e sem derrubar árvores, como lembra Rosana Claudina, conhecida como Preta.

Nos anos 1990, após a criação do assentamento Andalúcia, pouco se falava sobre extrativismo ou uso sustentável da biodiversidade. No entanto, na década seguinte, o Ceppec participou de um dos mais de 760 intercâmbios promovidos até hoje pelo PPP -ECOS/Fundo Ecos, conhecendo o trabalho da Agrotec e firmando uma parceria. 

“Passamos a aprender muito com eles, e a Agrotec nos fez perceber que o Cerrado em pé traz retorno”, conta Preta.

Inicialmente, a ideia do extrativismo foi vista como “meio maluca” no assentamento, especialmente por envolver o manejo das árvores, a contagem de espécies e a colheita de frutos no meio da mata. Contudo, hoje, mais de 90 famílias estão cadastradas para a colheita de baru. Além disso, as árvores que antes eram derrubadas, agora são plantadas nos oito municípios onde o Ceppec atua, garantindo a continuidade da safra.

Preta ressalta que o apoio do Fundo Ecos foi essencial para o crescimento do Ceppec. O fundo ajudou a estruturar a sede da organização, forneceu o primeiro meio de transporte e financiou a compra de teares para as atividades de tecelagem, além de promover capacitações, oficinas e intercâmbios.

Carregamento de baru armazenado no galpão da Ceppec; safra de 2021 (Foto: acervo pessoal/reprodução)

Segundo a agricultora Preta, o PPP-ECOS/Fundo Ecos tornou-se o “primeiro e principal financiador” do Ceppec. Com esse apoio, um novo mundo se abriu para o centro e suas atividades. “Conhecemos a Rede Cerrado e o universo de pessoas e organizações envolvidas com a proposta de desenvolvimento local sustentável junto às comunidades”, conta Preta.

Ao longo dos anos, a rede de parcerias formadas fortaleceu as ações do Ceppec, que tem enfrentado desafios causados pela seca, o desmatamento e os incêndios descontrolados. O impacto ambiental desses eventos foi sentido na colheita de 2024, que não foi abundante como de costume. 

Os poucos barus que nasceram foram deixados para os animais do Cerrado e do Pantanal, que estão sem alimento devido aos incêndios no bioma. “É impactante tudo o que está acontecendo, e percebemos a importância de ser solidário. Por isso, decidimos não fazer a colheita, deixando os frutos para os bichos se alimentarem”, explica Preta.

Ela reflete sobre a interdependência humana e ambiental, destacando que “enquanto não percebermos que não somos autossuficientes, que dependemos de todo o ecossistema, continuaremos a sofrer esses impactos”. Em suas palavras finais, Preta expressa esperança: “Desejo dias melhores para o nosso Cerrado, com novas práticas e mais sabedoria para a humanidade.”

Fortalecimento 

A cadeia produtiva do baru se expandiu significativamente nas últimas décadas, reunindo organizações como Agrotec, Ceppec, Vagafogo, Cenesc, entre outras, em torno da comercialização da castanha e do uso sustentável dos recursos do Cerrado. 

Em 2004, congregando muitas dessas organizações, surge a Central do Cerrado, uma cooperativa que atua na promoção e comercialização dos produtos comunitários de uso sustentável da biodiversidade. O baru é um dos principais produtos comercializados pela organização, que por sua vez tem uma contribuição relevante na estruturação da cadeia de valor da castanha. 

Nas últimas duas décadas, o valor nutricional do baru – rico em proteínas e sais minerais – foi amplamente reconhecido, conquistando espaço no varejo, nas indústrias e até no mercado internacional, especialmente nos Estados Unidos. 

Durante esse processo, diversas organizações, muitas delas beneficiárias do então PPP-ECOS, uniram-se e tornaram-se fundamentais para a consolidação dessa cadeia. Entre elas, destacam-se a Cooperativa Central da Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nossa Senhora do Livramento. 

Embalagem e produção de baru da Cooperativa da Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana, beneficiária do Fundo Ecos (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Outra importante beneficiária, selecionada no 26º edital do PPP-ECOS/Fundo Ecos em 2019, a Cooperativa da Agricultura Familiar Sustentável Baseada na Economia Solidária (Copabase), localizada em Arinos, no noroeste de Minas Gerais, é atualmente uma das principais referências na produção de baru.

Dionete Figueiredo, coordenadora-executiva da Copabase, cresceu em uma comunidade tradicional de agricultores e faz parte da cooperativa desde a fundação. Segundo ela, “o baru não é apenas um bem econômico”, que gera renda para as famílias extrativistas. É também um produto que “gera autonomia e eleva a autoestima” de ao menos 300 famílias envolvidas no beneficiamento da castanha, carro-chefe da cooperativa. 

Conforme explica Dionete, o objetivo da cooperativa é manter as famílias no campo de forma sustentável, com oportunidade de renda, competitividade, volume e identidade territorial, sob os princípios de um comércio justo. 

Conhecido até agosto de 2024 como PPP-ECOS, o Fundo Ecos desempenhou um papel essencial nesse processo. Em 30 anos de atuação, mais de uma dezena de projetos apoiados atuam na cadeia da castanha do baru como foco. Luis Carrazza, secretário-executivo da Central do Cerrado, ressalta a importância: “Ao avaliar o impacto das ações, o baru é o caso mais significativo da influência do Fundo Ecos, tanto em termos de fortalecimento da cadeia produtiva quanto de conservação por meio do uso sustentável.”

O primeiro impulso para essa cadeia produtiva veio com Vanderlei da Agrotec, em um projeto financiado pelo GEF/PNUD. Na época, o ISPN havia sido selecionado para coordenar o Small Grants Programme (SGP) no Brasil, conhecido como Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS). Esse programa foi inovador ao colocar as comunidades rurais no centro da conservação do Cerrado, incluindo áreas fora de unidades de conservação.

O PPP-ECOS foi o primeiro programa, que mais tarde se transformou em fundo, dedicado exclusivamente ao bioma Cerrado, com foco no apoio a agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais, historicamente negligenciados pelas políticas ambientais. 

Dessa iniciativa pioneira, surgiram várias redes e organizações, incluindo a Central do Cerrado. Com a missão de valorizar os produtos da sociobiodiversidade e gerar renda no campo, a Central atualmente comercializa produtos de 40 organizações comunitárias em nove estados brasileiros. Entre esses produtos, o baru se destaca, sendo encontrado em diversas formas, como a barutella, o licor de baru, o pesto e o próprio baru torrado, vendidos tanto na loja virtual da Central quanto em estandes físicos em mercados e armazéns.

Alguns dos produtos de ou com baru no site da Central do Cerrado:

     

O PPP-ECOS foi o primeiro programa, que depois viria a se tornar um fundo, dedicado exclusivamente ao bioma Cerrado, focado em apoiar agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais, que até então eram negligenciados pelas políticas ambientais. 

 

Galpão do Central do Cerrado, localizado no município de Sobradinho, no Distrito Federal (Raimundo Sampaio/Agência Cajuí)
Luis Carrazza, secretário-executivo da Central do Cerrado (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

“Em debates e reflexões sobre a comercialização puxadas pelo ISPN e Rede Cerrado, 19 organizações beneficiárias do PPP-ECOS em 2004 se uniram para criar uma central de comercialização. Elas perceberam que necessitavam implementar equipe, estrutura e estratégias de comercialização e que dificilmente conseguiriam fazer isso individualmente”, comenta Luís Carrazza. Surge assim a Central do Cerrado, “incubada” pelo ISPN até 2010, quando se constitui formalmente como cooperativa, “conquistando sua almejada autonomia e independência”, acrescenta o secretário-executivo.

Essa colaboração entre empreendimentos comunitários permitiu a diversidade de produtos e uma quantidade que se alinhava aos procedimentos coletivos de comercialização. O objetivo era gerar e distribuir renda para as comunidades, além de melhorar a qualidade de vida da população local.

Desde o início dos anos 2000, as organizações que fundaram a Central do Cerrado participavam de encontros e feiras para discutir a venda de suas produções. Nesse período, o Fundo Ecos já acumulava mais de uma década de experiência em apoio a organizações comunitárias.

A formalização da cooperativa como entidade ocorreu apenas em 2010, após ser incubada no ISPN. “Eu era técnico e trabalhava na criação de estratégias para comercializar os produtos dos projetos do Fundo Ecos”, explica o secretário-executivo Carrazza.

O aprendizado ao longo dos anos mostrou a importância de atuar em múltiplos canais de comercialização para garantir o escoamento da produção das cooperadas e a sustentabilidade financeira da Central. Isso inclui vendas diretas ao consumidor, preparação de coquetéis e lanches, vendas on-line, loja física em Brasília, além de parcerias com revendedores, empórios, grandes mercados de varejo e até mesmo exportação de matérias-primas para a indústria.

Mural com fotos da Agrotec na comemoração de 33 anos do ISPN (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Mudanças 

Assim como a cadeia do baru, que cresceu e se consolidou, o PPP-ECOS também germinou e deu frutos, colhidos pelas comunidades que tiveram suas ações apoiadas.

Ao longo de 30 anos, o hoje Fundo Ecos comemora mais de 950 projetos apoiados e mais de US$ 25 milhões investidos. Com seu novo nome, que facilita o entendimento do trabalho, mantém o compromisso com o fortalecimento de povos indígenas, comunidades tradicionais e da agricultura familiar.

Texto por Camila Araujo, assessora de Comunicação do ISPN.

Projeto relacionado

Nenhum projeto relacionado.