“Há 13 anos nascia uma ideia, uma ideia que mudaria a vida de muitos jovens, de muitas famílias. Uma ideia aparentemente simples, mas capaz de transformar a realidade de muitas pessoas. Afinal, educação é isso; melhorar a vida das pessoas através do conhecimento”. Foi com esse depoimento de orgulho e emoção que o professor e coordenador pedagógico, Marcos Lima, abria a solenidade de inauguração da nova sede da Casa Familiar Rural (CFR) no município de Zé Doca, no Maranhão, no último dia 27 de outubro. O desejo da comunidade escolar de ter uma unidade própria se materializava ali, mais do que de concreto, era um sonho se tornando possível, real, acontecendo aos olhos de todos. O momento contou com as presenças de fundadores, estudantes, ex-alunos, professores, ex-docentes, equipe técnica-administrativa da escola e ainda representantes de organizações parceiras, entre estas o ISPN, Instituto Federal de Educação do Maranhão (IFMA), Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Prefeitura Municipal.
A nova sede só foi possível quando a gestão da Casa Familiar resolveu elaborar um projeto e concorrer, pela primeira vez, ao edital do Fundo para Promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS). Com o projeto apoiado no valor de R$ 150 mil, com recursos do Fundo Amazônia, foi construída uma estrutura própria e ampla, com salas de aula, dormitório e refeitório. O terreno foi doado pela Associação dos Trabalhadores da Vila Boa Esperança, zona rural do município de Zé Doca. A escola funcionava em outro espaço cedido pela associação, pois, antes, já tinha funcionado numa igreja e em um barraco improvisado.
“Passamos por muitas dificuldades, imensas. Dias sem comida, sem gás, sem água. Foram muitos desafios que com união e persistência superamos no dia a dia, graças a uma equipe de profissionais empenhada e comprometida, à associação e aos nossos parceiros que sempre estiveram juntos nessa caminhada”, enfatizou Marcos Lima.
Em mais de uma década, a Casa Familiar Rural já formou cerca de 300 jovens rurais no ensino médio integrado à educação profissional (Técnico em Agropecuária). São alunos que voltaram para as suas comunidades com uma formação contextualizada à realidade deles, ingressaram no mercado de trabalho ou continuaram os estudos com formação acadêmica, como agronomia, zootecnia e veterinária. A escola abrange toda região do Alto Turi, no Maranhão, envolvendo 18 municípios.
Leidiana Lemos é ex-aluna e atual presidenta da Casa Familiar Rural. Sente orgulho de ter sido estudante e ainda hoje poder contribuir com a escola. “Foi uma oportunidade que bateu em minha porta, e de grande relevância para o meu crescimento profissional, me formei em 2015 e atualmente estou como presidenta da Casa. Estamos tendo a oportunidade de acreditar que podemos ter e dar mais conforto aos nossos jovens, pois foi um sonho que nasceu junto, com a criação da CFR em Zé Doca, e agora foi realizado esse grande sonho”, falou entusiasmada.
“A CFR pra mim foi o começo de tudo, da pessoa que me tornei hoje, juntamente com minha família, que me apoia sempre. A gente sai da CFR, mas a CFR não sai da gente. Me sinto parte da escola e fico muito feliz quando tem algum evento e sou convidado, como fui para a inauguração da nova sede. Ali, tive minha primeira experiência de trabalho, me preparei na CFR e hoje temos orgulho de ter uma sede com um conforto melhor para receber novas turmas, para receber jovens que serão ótimos técnicos futuramente”, declarou o ex-aluno Adenilson Sousa, que atualmente trabalha em um banco multinacional na cidade de Zé Doca e aos finais de semana trabalha com os pais na comunidade rural de Alto Bonito.
Ainda segundo o professor Marcos Lima a sede própria da Casa Familiar traz um grande significado educacional, social e econômico. “O novo espaço traz consigo não só o conforto e a segurança para nossos alunos e equipe, mas também é um símbolo de lutas e uma maneira de projetar nossa escola. Poderemos atender mais jovens. Isso representa mais profissionais atuando na área das agrárias na região e garantindo uma produção maior e mais sustentável”, disse.
“É urgente e necessário incluirmos os jovens nos debates sobre o desenvolvimento sustentável, para isso a educação desempenha um papel fundamental. O ISPN entende que o apoio a iniciativas como a da Casa Familiar Rural de Zé Doca é estratégico, por ser uma escola fundada pelas famílias de agricultores e assentados da reforma agrária, tem na base de seu projeto político pedagógico a busca por uma educação contextualizada à realidade da agricultura familiar, tendo como premissa a agroecologia e o uso sustentável da biodiversidade”, ressaltou a assessoria técnica do ISPN, Juliana Napolitano.
SOBRE O PPP-ECOS – É uma estratégia que se viabiliza a partir de um fundo independente chamado de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS) para promover a conservação ambiental e o equilíbrio climático aliados ao uso sustentável da biodiversidade, além de fortalecer a segurança alimentar, gerar renda e promover vida digna no campo por meio de diálogos e ações que assegurem o protagonismo comunitário em sintonia com o enfrentamento das desigualdades sociais.
Atua com diferentes questões como raça, etnia, educação, agroextrativismo e juventude, além do incentivo ao protagonismo das mulheres em projetos comunitários. O fundo capta e destina recursos a projetos de organizações comunitárias, e conta com apoio financeiros do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), Fundo Amazônia/BNDES, Laudes Foundation e União Europeia.