“A nossa luta em cuidar do rio Caiapó é também para nutrir o rio Araguaia com tucunaré, aruanã, pacu, pirosca ou pirarucu, tucunaré-pitanga e tantos outros peixes. Sem falar dos tracajás, das tartarugas, dos jacarés, dos botos e também dos pássaros, como essas ciganinhas e marrecas. Anta, capivara e onça também vêm aumentando depois que o Acordo de Pesca começou a funcionar”, comentou o pescador artesanal Valdivino Marques. Quem mais conta sobre essa riqueza de biodiversidade vinda das águas doces e seus arredores são os colegas pescadores de Valdivino da Colônia de Pesca do município de Araguacema (TO), a Copesca. Valdivino, Alonso Pereira Martins e Ana Alice Alves da Costa, juntos a diversos outros guardiães das águas na região, atuam para proteger o Rio Caiapó, um berçário responsável pela água repleta de vida que desemboca em um dos mais conhecidos rios brasileiro, o Araguaia.
A jornada desses pescadores artesanais na defesa do Caiapó começou a receber apoio em 2006, por meio de uma parceria do Ministério Público Federal (MPF) com a instituição do Acordo de Pesca. O apoio, no entanto, foi oficializado apenas dez anos depois, quando uma portaria do órgão público foi assinada. Em 2021, o projeto, agora chamado de “Acordo de pesca para a gestão comunitária e sustentável da pesca artesanal e esportiva em Araguacema-TO”, foi um dos selecionados pelo Fundo para a Promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS) do ISPN, com recursos do Fundo Amazônia e, em 2022, passou a receber apoio para que o trabalho das comunidades pesqueiras pudesse prosseguir. Para o desenvolvimento da iniciativa, a Colônia de Pesca conta com assistência técnica da Cooperativa COOPTER e parceria da prefeitura de Araguacema e do Instituto Naturatins, órgão estadual do Tocantins.
A iniciativa veio potencializar a organização do trabalho voluntário dos pescadores e das pescadoras artesanais para proteger o rio-bercário, fiscalizar e monitorar para que a pesca ilegal e predatória não volte a sufocá-lo e ainda gerar renda para suas comunidades, por meio do turismo de pesca esportiva – o chamado “pesca e solta”.
A pesca artesanal tem importância social, política e ambiental para o país. Além de protegerem as águas, como faz Valdivino, Alonso e Ana Alice, ela coloca boa parte do pescado na mesa dos brasileiros, pescado esse que é diverso e fruto da relação respeitosa entre pescadores, mares e rios. São relações ancestrais que esses grupos tradicionais estabelecem com os recursos hídricos, o que faz com que o respeito pelas águas e pela conservação ambiental seja corriqueiro no dia a dia das comunidades.
“Esse grupo atua para convencer os fazendeiros a não queimarem e deixarem a floresta em pé, para que ela possa cumprir seu papel de alimentar os animais e segurar a areia no seu lugar para não escorrer para dentro do rio. Essa lida é de todo dia, o ano todo. Em um período que o projeto ficou sem apoio, a invasão com a pesca predatória no berçário quase acabou com a população de pirarucu (o pirosca). Quando a pesca artesanal entra em cena, vemos geração de renda e sustentabilidade”, comenta o assessor da COOPTER, Luciano Gonçalves da Silva.
O rio saudável é símbolo de vida, tanto para os tucunarés, onças e capivaras, como para Valdivino, Alonso e Ana Alice. O trabalho em defesa do Rio Caiapó é também um trabalho em defesa da vida de quem sabe utilizar as riquezas que o meio ambiente oferece de maneira sustentável, gerando alimentos para suas comunidades e para a sociedade. A luta dos pescadores artesanais é também a luta por modos de vida que ofereçam lazer, alimentação, renda e o respeito à toda biodiversidade – fundamental para o equilíbrio climático global. Nas margens do Rio Caiapó, a história é contada por quem conhece a força das águas.
A lida dos pescadores e pescadoras de Araguacema vai virar filme!
E é com alegria que anunciamos que esse importante contexto socioambiental será narrado em obra audiovisual pela produtora Olho Filmes em parceria com o ISPN. O diretor Neto Borges e o fotógrafo Fred Siewerdt foram à região para registrar a iniciativa que, junto a outros projetos apoiados pelo PPP-ECOS na Amazônia Legal, farão parte de um série de vídeos documentais A produção deverá ser lançada entre janeiro e abril de 2023 e evidenciará a importância do apoio a projetos comunitários. Assim, histórias como a dos pescadores e das pescadoras artesanais de Araguacema poderão tocar e sensibilizar a sociedade para o olhar ecossocial.
O projeto “Acordo de pesca para a gestão comunitária e sustentável da pesca artesanal e esportiva em Araguacema-TO” tem apoio do fundo PPP-ECOS com recursos do Fundo Amazônia.
A Colônia de Pescadores e Pescadoras de Araguacema e a Coopter também fazem parte da Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática #vozesdotocantins.