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Casa do Mel em assentamento da reforma agrária no TO é “consolidação de anos de trabalho”

Conquista no município de Pau d´Arco está vinculada a 16 famílias de apicultores da Associação de Pequenos Apicultores do Projeto Sudam (APAPS) que recebe apoio do PPP-ECOS

A inauguração ocorreu em 5 de novembro de 2022, em meio a uma grande confraternização da VII Feira do Mel e contou com visitantes de municípios vizinhos, como Nova Olinda, Colinas, Araguaína, Aragominas, Palmeirante, Santa Maria, Filadélfia, Gurupi, e também de outros estados, como de Goiânia (GO) e de Brasília (DF).

Oficinas para aproveitamento do mel de abelhas, para produção de sabonetes, uso de própolis e também sobre controle de pragas que atacam as abelhas foram disponibilizadas aos apicultores presentes e ministradas por parceiros, representantes de empresas apícolas e professores do Instituto Federal do Tocantins (IFT) do campus de Araguaína.

O sonho 

A Casa do Mel, uma agroindústria construída e equipada com apoio do fundo para a promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS), com financiamento do Fundo Amazônia, era o sonho da APAPS, declarou Rosângela, acrescentando que a entidade lutava pelo espaço desde a fundação em 2013.

“O sonho da associação sempre foi ter uma casa do mel. Um sonho que a gente já tinha tentado por vias políticas, por emendas parlamentares, de todas as formas. Era um sonho muito grande das 16 famílias. Com o edital do PPP-ECOS Amazônia foi possível tornar isso realidade”, disse a presidente, que também é apicultora, pedagoga e educadora na escola do assentamento.

Prefeito e associados visitam Casa do Mel no dia da inauguração (Foto: Acervo ISPN/Rodrigo Noleto)

O PA Sudam existe desde meados dos anos 1990. Trata-se de um assentamento da reforma agrária e da agricultura familiar, que se organiza por meio da associação. Na entidade, todo mundo pode fazer parte e opinar, homens, mulheres e crianças, além de assentados dos assentamentos Filadélfia e Paraíso.

Rosângela tem 50 anos e mora no Sudam desde 2000 e passou a fazer parte da associação desde o início, primeiro como secretária. Na época, ela ainda não fazia o trabalho com as abelhas, mas explica que já ajudava com papéis, ofícios, requerimentos, atas e outros documentos.

Rosângela Oliveira é Associação dos Pequenos Agricultores do Projeto Sudam (Foto: Acervo ISPN/Raísa Pina)

Para produzir o mel, é necessário a obtenção de caixas que funcionam como colmeias e atraem as abelhas. São utensílios que contam com um suporte, uma placa inferior, um ninho, caixas menores chamadas de melgueiras e uma tampa.

Ali no Sudam, as caixas utilizadas são feitas de madeira e do tipo “ninho” com, em média, meio metro cúbico.

Em 2018, Rosângela e o companheiro “finalmente” adquiriram quatro caixas para a produção de mel. Neste momento, e por conta de seu engajamento, foi eleita presidente da associação em assembleia geral.

“Eu já estava bastante envolvida, principalmente com a criação das abelhas, que foi um trabalho pelo qual me apaixonei. Me apaixonei pelas abelhas”, declarou, explicando que então tomou conhecimento do edital PPP-ECOS do ISPN.

Rosângela segura uma caixa “colmeia” ao lado de seu companheiro Juscelino (Foto: Acervo ISPN/Raísa Pina)

A realização 

Apesar de recém inaugurada, a Casa do Mel já processou 7 toneladas de mel da colheita do ano passado. As abelhas que fazem o trabalho junto aos assentados são apis mellifera, abelhas com ferrão de origem europeia que foram introduzidas no Brasil durante a colonização em 1839. Elas são altamente produtivas e produzem o mel comumente encontrado no mercado.

“Com a Casa do Mel a gente incentivou as pessoas a investirem em mais caixas para produzir mais. Esse ano a expectativa é de 10 toneladas”, diz Rosângela, argumentando ainda que a renda das famílias aumentou devido à produção de mel.

“Melhora a vida das pessoas e valoriza o local e a comunidade.”

Essa é também a história dos apicultores assentados Eliezer Patrocínio e Valéria Gomes com quem o ISPNconversou.

“A Casa do Mel trouxe mais qualidade de vida para todos os apicultores, familiares e o pessoal da região que nos ajuda nos dias de colheita”, explicou Eliezer. Morador do assentamento Paraíso, Eliezer, de 42 anos, é produtor rural, criador de bovinos, apicultor – criador de abelhas com ferrão, as já citadas apis mellifera – e meliponicultor – criador de abelhas nativas, popularmente conhecidas como abelhas sem ferrão.

Nos vídeos abaixo, ele mostra caixas com diferentes tipos de cultura de abelha.

Seu primeiro contato com abelhas ocorreu no ano de 2012, mas ele somente começou a trabalhar com a produção em 2017.

“Uma paixão recente mas diária.”

Para ele, a Casa do Mel é, na verdade, a realização do esforço de quem trabalha com apicultura na região. Agora, devido ao que chama de “excelente estrutura e maquinário de primeira linha”, ele afirma que dá “mais prazer ainda em trabalhar com a atividade”.

“A gente pode somar mais parcerias e beneficiar toda a nossa região”, declara, acrescentando que com “nosso esforço diário” muita gente tem chegado junto procurando se associar.

“Um dos nossos focos é esse: trazer mais pessoas para perto, jovens, filhos, para ensiná-los a pegar gosto pela atividade”.

Juscelino, companheiro de Rosângela, ao lado de Valéria Gomes, que veste macacão de apicultura (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

Valéria Gomes mora no Sudam desde 1993 e como se intitula, é mãe, esposa, dona de casa e apicultura. Começou o ofício com as abelhas há cerca de seis anos, embora tenha tido contato anteriormente por conta da vizinhança que já mexia com produção de mel.

“Comecei a ver a apicultura como uma forma de renda extra, né? Não foi fácil, mas estou aqui aprendendo e descobrindo. É uma vida, uma história muito bonita atrás disso tudo”, comenta.

No áudio abaixo, Valéria Gomes nos conta um pouco mais de sua história.

O incentivo

A ideia de criar abelhas por ali, afinal, surgiu por volta de 2004 com o incentivo do padre Edimar Antunes. Sacerdote há 22 anos na Igreja Católica, ele foi transferido naquele ano para a paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, na cidade de Arapoema, a 39 km de Pau D’Arco.

Neste segundo município, pela proximidade, ele passou a atender também a Paróquia de São Domingos Gusmão e vários assentamentos da região.

Ele conta que percebeu que por ali os produtores estavam muito voltados para a criação de gado e que era possível agregar novos valores de produção neste sentido. “Vi a necessidade de viabilizar um projeto que pudesse assessorar e ajudar a agricultura familiar”, explica.

Em 1988, ele entrou em contato, pela primeira vez, com a apicultura em uma atividade de formação. “Me apaixonei e desenvolvi isso no seminário quando ainda era seminarista.”

Então, junto aos produtores assentados de Pau D’Arco, o projeto se iniciou com a doação de material da diocese de Tocantinópolis, que tinha armazenado caixas, decantador e centrífuga sem uso.

Equipamentos doados pelo padre Edimar (Foto: Acervo Pessoal/Reprodução)

O projeto inicial era algo “tímido”, descreve Padre Edimar, e visava organizar uma cooperativa de mel, para beneficiamento de derivados, e também para o leite e seus derivados. Ainda assim, de início, segundo contam o sacerdote e Valéria, as pessoas ficaram desconfiadas.

“A gente não tinha comunicação, a gente não tinha internet. E foi uma novidade. Para muitos foi um pouco assustador. Por conta de ser abelha e de ter ferrão”, diz Valéria.

Casa do Mel tem previsão de produzir 10 toneladas de mel (Foto: Acervo ISPN/Raísa Pina)

Mesmo assim, alguns produtores toparam o desafio e começaram a produzir. Foi então que uma nova dificuldade apareceu: a de vender o produto. Neste momento, as mulheres entraram em cena com protagonismo, porque elas conseguiriam iniciar o processo de vendas e o projeto “começa a virar uma realidade saudável”.

Na sequência, surge um novo desafio: não havia espaço adequado para bater o mel, como uma casa do mel. “Aí fizemos uma ação em conjunto, que nos rendeu um pequeno quarto, onde a gente batia o mel”, comenta Edimar, acrescentando que mais tarde surgiu a possibilidade de construir a casa junto ao edital do PPP-ECOS: “Isso motivou demais os apicultores”.

Para Edimar, o sonho da Casa do Mel é um sonho em realização. Um projeto e uma riqueza muito grande que tem ajudado a elevar a autoestima dos assentados além de potencializar toda a região.

Antes da Casa do Mel se tornar realidade, os moradores se juntaram em um mutirão para construir um quarto para a produção do mel (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)
Visita da equipe do ISPN ao PA Sudam em outubro de 2021 (Foto: Acervo ISPN/Raísa Pina)

O padre também aponta que o projeto tem trazido “zelo em relação à natureza, à floresta e ao reflorestamento”. “A apicultura tem aberto as portas para o meio ambiente e para a importância do trabalho coletivo”, comemora.

 

Imagem da capa é do Acervo ISPN/Raísa Pina. Texto escrito por Camila Araujo. 

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Construção e equipamento da Casa do Mel da APAPs

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