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Raizeiras, cisterneiras, artesãs: mulheres que transformam a realidade e conservam biomas

O Fundo Ecos destaca, neste sábado, 8 de março de 2025, o trabalho de mulheres do Vale do Jequitinhonha ao Sertão do Pajeú, passando pelo território quilombola Kalunga.No Dia Internacional de Luta das Mulheres, em ofícios exercidos nas comunidades tradicionais, elas são a linha de frente: no cuidado tradicional com a saúde da comunidade, na construção de tecnologias fundamentais e na produção de artesanato, elas garantem renda e autonomia, enquanto conservam a cultura e o meio ambiente.

Por esse motivo, o protagonismo das mulheres é considerado pilar fundamental na história do Fundo Ecos e na consolidação da estratégia institucional do ISPN, cujo objetivo é promover paisagens produtivas e ecossociais. Em outras palavras, apoiar a sustentabilidade e conservação de comunidades de povos indígenas e tradicionais, que são quem mantêm os biomas de pé.

Não por acaso, dois dos últimos editais lançados pelo Fundo têm como foco o protagonismo das mulheres e a inclusão socioprodutiva desse grupo. 

Raizeiras 

Ao menos 12 raizeiras anciãs são reconhecidas no território quilombola Kalunga (Foto: Fernando Tatagiba)

Na território quilombola Kalunga, que abrange os estados de Goiás e Tocantins, as raizeiras Luzia Francisco Conceição, Elias José Fernandes, Getúlia Moreira da Silva são três das 12 anciãs reconhecidas e responsáveis por transmitir o conhecimento tradicional das plantas para a juventude. 

Elas usam o assa-peixe para limpar o pulmão e tratar pneumonia, e encontram utilidade em cada parte da planta: da folha até a raiz. Usam o buriti para desentupir veia ou tratar de uma asma, a folha da imbaúba para cuidar dos rins e o jatobá como antiinflamatório e cicatrizante. 

Com apoio do Fundo Ecos, financiamento do Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU) e parceria do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o projeto “Saberes e fazeres ancestrais do povo Kalunga sobre plantas medicinais nativas e cultivadas da Associação Kalunga Comunitária do Engenho II” organizou um livro que sistematiza o conhecimento dessas raizeiras. 

O projeto é um dentre 53 apoiados pelo Fundo Ecos, em oito estados diferentes, que relacionam as plantas medicinais, as raizeiras e a farmácia viva – uma abordagem integrada no cuidado à saúde, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS), que utiliza plantas medicinais e fitoterápicos de forma natural e sustentável. Essa prática envolve todas as etapas do processo, desde o cultivo e coleta das plantas medicinais até o processamento, armazenamento, preparação e dispensação dos produtos fitoterápicos na atenção primária à saúde. 

Saiba mais sobre o livro “As Plantas Medicinais dos Kalunga” aqui

Artesãs do barro 

Maria de Si, do povoado Campo Buriti (MG), se dedica ao artesanato Depois de uma vida como educadora e agricultora (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Maria de Si, do povoado Campo Buriti (MG), se dedica ao artesanato Depois de uma vida como educadora e agricultora (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

As artesãs do barro de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha (MG), chamam a atenção pela beleza das peças do artesanato em barro, que refletem elementos da natureza, como animais locais, plantas nativas e cenas do cotidiano da região. 

O trabalho delas têm um papel importante na economia local, já que é fonte de renda para famílias, e podem ser encontradas em mercados locais, lojas de artesanato e até em grandes lojas de decoração Brasil afora. 

No povoado de Campo Buriti, por exemplo, o barro se tornou a expressão de um modo de vida, uma fonte de sustento e uma ponte para o mundo exterior. É o local onde um grupo de mulheres se encontram para moldar vasos, peças ornamentais, e partilhar suas histórias.

Maria Gomes Barbosa, 59 anos, conhecida como “Maria de Si”, depois de uma vida dedicada à educação e à agricultura, encontrou no artesanato um modo de vida, e hoje preside uma associação de artesãs. 

Não muito longe dali, na comunidade Campo Alegre (MG), outro grupo de mulheres se juntou na Associação dos Lavradores e Artesãos de Campo Alegre (ALACA) para impulsionar o trabalho com o barro.

Para Maria Aparecida, a Cida, de 46 anos, o artesanato foi a porta de entrada em direção a um mundo além das fronteiras locais. Ela participa de feiras em todo o Brasil, ampliando seu alcance e garantindo o sustento de sua família.

As iniciativas contam com a parceria do Centro de Agricultura Vicente Nica (CAV) e são apoiadas pelo Fundo Ecos com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).

Cisterneiras do Pajeú 

 

Presidente da Associação de Mulheres da Comunidade de Bom Sucesso, Suely Carvalho, e a agricultora Neide Oliveira (Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN)

Na comunidade de Bom Sucesso, zona rural de Ingazeira (PE), no sertão do Pajeú, mulheres constroem as próprias cisternas para garantir o acesso à água e enfrentar a desigualdade histórica no campo. 

A região é marcada pela distribuição irregular da água, que se concentra em poucas propriedades. Para transformar essa realidade, elas colocam literalmente a mão na massa. 

Capacitadas pelo Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), cinco mulheres da comunidade agora constroem as tecnologias de armazenamento de água de beber na comunidade. Ao longo do último ano, foram cinco cisternas construídas na região, sendo uma dentro da própria comunidade. 

Não se trata de “combater a seca”, mas de aprender a conviver com o semiárido, garantindo autonomia e dignidade. 

Sob a liderança de Maria Suely Carvalho, agricultora, pedreira e tratorista de 39 anos, presidente da Associação Comunitária das Mulheres de Bom Sucesso há quase seis anos, a organização transformou a realidade local com infraestrutura, cursos e o fortalecimento do protagonismo feminino na sociedade.

A iniciativa conta com apoio do Fundo Ecos e da Casa da Mulher do Nordeste, recursos do GEF (SGP) e parceria institucional do PNUD Brasil.

Fundo Ecos 

Ao longo dos últimos 30 anos, o Fundo Ecos executou mais de mil projetos, alcançando a participação de cerca de 77 mil mulheres. Ao compreender a importância do protagonismo feminino, o Fundo publicou no último ano dois editais temáticos, de forma inédita, com foco na inclusão socioprodutiva de mulheres. Quer saber mais? Acesse o site do Fundo Ecos

Texto por Camila Araujo/Assessoria de Comunicação ISPN.

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